segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Mobilidade Urbana Sustentável no Recife.


por Roberta Soares
do JC
betasoares8@gmail.com

Menos de dez quilômetros dos 21,5 destinados a ciclovias, ciclofaixas e pistas compartilhadas têm condições de serem usados com segurança na cidade

A prioridade ao ciclista no sistema viário do Recife só existe no discurso e no site oficial da prefeitura. Na prática, andar de bicicleta pelas vias da capital nunca foi tão arriscado. Dos 21,5 quilômetros que totalizam a área destinada a ciclovias, ciclofaixas e pistas compartilhadas, menos de dez quilômetros estão em condições de serem utilizados com segurança. O restante da malha cicloviária inexiste ou está ocupada indevidamente.

A situação mais degradante é a da Ciclovia Tiradentes, na Zona Oeste, justamente a que deveria ter melhor conservação por ser utilizada por trabalhadores e estudantes que andam de bicicleta porque não podem pagar passagem de ônibus. Batizada de ciclovia em 2005, nada mais é do que uma faixa compartilhada com carros em seis dos sete quilômetros. Da sinalização, restaram apenas as placas verticais.

No chão, há trechos em que não se identifica sequer os vestígios da pintura. “Está um abandono. Não há nem sinal de que um dia a bicicleta teve vez aqui. A gente tem até medo de andar. Os carros, as carroças, todos têm mais espaço do que os ciclistas. Há momentos em que temos que subir a calçada para dar vez aos outros”, criticou o entregador Márcio Moreira, 34 anos, usuário da Tiradentes.

Números da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), responsável pela implantação de espaços para os ciclistas, mostram a importância da Tiradentes: 41% dos usuários utilizam para ir ao trabalho, 29% para compras, 18% como lazer e 12% para carga e entrega de mercadorias.

Bem mais recente, mas num estado de conservação ainda pior, está a ciclofaixa que margeia o Canal do Cavouco, na Iputinga, também na Zona Oeste. Muitos dos blocos utilizados pela prefeitura para segregar o espaço destinado aos carros estão destruídos e soltos. Ficam atravessados sobre a ciclofaixa, dificultando a passagem das bicicletas. O abandono é tanto que até animais são encontrados ocupando o espaço dos ciclistas.

Segunda-feira, a reportagem flagrou o momento em que o estudante Breno Marques, 18, desviava de um cavalo que descansava sobre a ciclofaixa. “Isso é comum. A via inteira tem problemas. O jeito é andar com cuidado”, afirmou, ciente de que os obstáculos enfrentados até então eram pequenos diante do que ele iria encarar para chegar ao bairro da Torre, pedalando em meio aos carros, já que não há ciclovias no trajeto.

A Ciclovia Orla, como a prefeitura batizou a área destinada aos ciclistas na beira mar de Boa Viagem, na Zona Sul, é a que está em melhor estado. Embora tenha problemas de drenagem e acúmulo de areia, perto das outras representa um avanço na prioridade à circulação de bicicletas. É a única ciclovia da cidade.

Nela, ciclistas são separados fisicamente dos automóveis. A continuação do projeto, entretanto, tem inúmeros problemas. Em Brasília Teimosa, na mesma orla, vira uma simples faixa preferencial que, assim como as outras, está totalmente apagada. Em vários pontos o lixo também toma conta de tudo.

“O Brasil precisa parar de investir na indústria automobilística e priorizar o transporte público e o uso da bicicleta. Temos como meta estimular o poder público para conseguirmos mais 5 mil quilômetros de infraestrutura destinada aos ciclistas até a Copa de 2014″, planeja o presidente da União de Ciclistas do Brasil, Antônio Miranda.

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