Caxias do Sul – Não há vagas para estacionar no Centro. Você demora 10 minutos para percorrer uma quadra em horário de pico. Se você tem a impressão de que há carros demais em Caxias do Sul, está certo. Ela tem a impressionante média de 1,92 habitante por veículo. Isso sem contar o número de carros emplacados em outros municípios que circulam por aqui diariamente. Será que Caxias pode parar? A cidade se encontra em um cruzamento: ou toma a via de alternativas sustentáveis ou só faz piorar o anda-e-para das ruas.
Em um ranking organizado pelo Portal G1 com capitais e cidades com mais de 400 mil habitantes, Caxias ficou em 10º lugar em um total de 58 municípios. Os 410.166 habitantes se dividem em 213.480 veículos, de acordo com dados de maio deste ano do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). A cidade está à frente de Porto Alegre, com 2,19 habitantes por veículo e em 19º lugar no ranking. Para se ter uma ideia, São Paulo está na oitava posição, com 1,85. Curitiba, capital do Paraná, é a primeira colocada, com taxa de 1,6.
A frota caxiense inchou na última década, especialmente quando, a partir da estabilidade do Real surgiu uma nova classe média, ávida por bens de consumo duráveis e vantagens que até então só os ricos tinham. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM), em 1997, a frota caxiense era 100.911 veículos. O que significa que nos últimos 12 anos o número de carros dobrou. Enquanto isso, a população não seguiu no mesmo ritmo: o crescimento no mesmo período foi de 22,6%.
Além do poder de compra ampliado e das facilidades de financiamento de automóveis, há uma cultura que supervaloriza o automóvel.
– Tem dois aspectos diferentes. O primeiro diz respeito ao ritmo da vida urbana. A vida se transformou de tal jeito que exige uma mobilidade que o transporte público não atende. Até pouco tempo, o celular não era necessário, mas quando você configura sua vida em torno dele, ele passa a ser essencial, assim como o carro. O outro aspecto é cultural. Para muita gente, ter um carro é uma forma de expressar sua posição social através de um bem– analisa o antropologo e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Rafael José dos Santos.
O secretário da SMTTM, Vinicius Ribeiro, analisa a questão de forma semelhante:
– A opção do Brasil nos últimos 50 anos foi de se desenvolver através da indústria do automóvel. Esse setor foi o primeiro a receber incentivos da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Além disso, há a questão cultural, muitos caxienses se realizam pessoalmente comprando um automóvel.
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC), Milton Corlatti, concorda que é preciso mudanças:
– As pessoas de Caxias normalmente usam o carro para ir para qualquer lugar enquanto que, muitas vezes, têm ônibus passando na frente de casa. Há famílias de quatro pessoas que têm quatro carros. Outra coisa de Caxias é que, sempre que as pessoas saem de casa, dão uma passadinha pelo Centro e acabam tumultuando o trânsito.
kelly.pelisser@pioneiro.com
KELLY PELISSER
Na sua opinião, quais as soluções para que o trânsito de Caxias do Sul melhore, mesmo com a média de 1,92 habitante por veículo?
- Qualificar o transporte público: o transporte coletivo é apontado pelos especialistas como a grande solução. Mas é preciso ampliar o acesso, qualificar o serviço e informar melhor os cidadãos.
- Descentralização: o Centro é um dos gargalos. A alternativa é estimular a instalação de serviços básicos nos bairros para que, cada vez menos, as pessoas precisem ir ao Centro. Além disso, a retirada de estacionamento de parte da Rua Sinimbu é assunto que está sendo debatido.
- Escalonar o horário de entrada e saída de empresas e escolas: indústrias e colégios de uma mesma região poderiam ter horários diferenciados de entrada e saída de turno. A diferença seria de 15 minutos entre um e outro para diluir o tráfego.
- Restringir o acesso de veículos: pedágios urbanos e menor espaço para estacionamento gratuito em pontos de grandes movimentação, embora gerem reclamações de usuários, são formas de o poder público limitar o acesso de veículos a esses locais.
- Incentivar o uso de meios alternativos: criar ciclovias nas cidades é também apontado com alternativa. Mas esse meio deve estar integrado com outros: é preciso ter estacionamentos para bicicletas próximos a paradas de ônibus. A prefeitura atualmente estuda vias em que poderiam ser impla
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